"É célebre, na filosofia oriental, a comparação do processo de iniciação espiritual com a atividade dupla do sagitário: entesar e desentesar o arco.
O arqueiro puxa a seta em direção a seu corpo, entesando ao máximo o arco flexível, simboliza o homem que pensa intensamente, pela força consciente do ego intelectual; quanto mais intensa for esta atividade mental do homem-ego, tanto mais longe pode, depois, voar a seta do homem-Eu.
Mas seria erro pensar que essa força do sagitário produzisse o poder volante da flecha; esse poder é produzido pela força inerente ao próprio arco retesado, está na flexibilidade e na lei física do centrifugismo, que obriga a seta a voar na direção oposta à força muscular exercida pelo seteiro.
Temos, pois, duas forças em ação: uma, humana, muscular - outra, cósmica, universal. Para que a segunda força possa atuar devidamente, deve preceder a primeira, não como causa, mas como condição. Não é a força muscular do homem - o entesamento - que lança o projétil rumo ao seu alvo - mas é a força cósmica do arco - o desentesamento - que leva a flecha a seu destino.(...)
O homem ocidental é propenso ao entesamento máximo do arco, e, não raro, se contenta com esse egocentrismo. O homem oriental, não raro, acha supérfluo o entesar o seu arco, cultivar as coisas do ego, esperando que Brahman se encarregue de fazer voar o projétil. (...)"
(Huberto Rohden - A Essência do Otimismo - Ed. Martin Claret, São Paulo, 2002 - p. 110/112)
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