sábado, 15 de outubro de 2016

A CRUZ DE CADA UM


       “Um homem ia no trem lento, poeirento e sem conforto. Ia invejando os que podiam ir de avião. Nisto, viu um que, ao Sol impiedoso, viajava montado em lerdo cavalo ossudo. E alegrou-se.
O cavaleiro, corpo doído de tantas horas no lombo do pobre animal, intimamente lamentava ser ultrapassado pelo trem, que já ia longe, se perdendo na poeira.
Meia hora depois, ainda resmungando, passou por um pobrezinho que ia a pé.
Este, no caminho duro e pedregoso, sob calor escaldante, pés inchados, músculos fatigados, ia orando. Ia agradecendo a Deus ter aquela dor nos pés, pois o desconhecido a quem de manhã ajudara, era mutilado – não tinha pés, nem para senti-los doer.”
(Hermógenes, Viver em Deus, Editora Nova Era, 2006, p. 145)



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