quarta-feira, 19 de outubro de 2016

A SOBERBA



   “Um rio de planície, cheio de soberba, a um rio de planalto dizia:
- Eu sou tranquilo, largo, sereno e profundo. Em minhas águas navegam barcos, que levam riquezas aos mercados, remédios para os doentes, alimento às populações distantes, brinquedos para as crianças, presentes aos que são amados...
O rio das terras altas, agitado e sonoro, rápido e cheio de força, por sua vez respondeu:
- Pouco importa ser navegável ou não. É da permanente inquietude de minhas águas, dos desníveis do meu leito, das quedas e corredeiras que os homens tiram energia para mover fábricas, criar riquezas e iluminar cidades. Compare a poluição de tuas pardacentas águas com a limpidez das minhas.
Um sábio que por ali passava, escutando o diálogo, compadecido de tanta ilusão e arrogância, resolveu interferir com sua misericórdia, falando assim:
- Como são tolos vocês! Supõem que são diferentes. Não sabem que um é o outro. Discutem somente porque ainda não descobriram que não existem rios diferentes, mas um único rio. Renunciem à soberba, filha da ilusão. Cessem a discussão. Continuem, cada um, a cumprir individualmente o papel que têm a desempenhar, que são missões igualmente importantes, sem esquecer, no entanto, que são um único e mesmo rio , nascidos juntos e destinados a juntos imergir no mar.”
(Hermógenes, Viver em Deus, Editora Nova Era, 4ª edição, p. 148/149)

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