sábado, 23 de setembro de 2017

INTROSPECÇÃO


"Vejamos primeiro o que se entende por introspecção. Por introspecção entende-se: olhar para dentro de si mesmo, examinar a si mesmo. Por que examino a mim mesmo? Com o fim de me aperfeiçoar, alterar, modificar. Faço a introspecção com o fim de me tornar alguma coisa, do contrário não a faria. Não examinaríeis a vós mesmos, se não houvesse o desejo de vos modificardes, vos alterardes, vos tornardes uma coisa diferente do que sois. Esta é a razão evidente da introspecção. Sinto cólera, e recorro à introspecção, ao exame de mim mesmo, com o desejo de me livrar da cólera ou de modificá-la ou alterá-la. Onde há introspecção, que representa o desejo de alterar as reações do "eu”, há sempre um fim em vista; quando esse fim não é alcançado, há indisposição, depressão. Por conseguinte, a introspecção está invariavelmente ligada à depressão. Não sei se já notastes que quando fazeis introspecção, quando olhais para dentro de vós mesmos, com o fim de vos modificardes, vem sempre uma onda de depressão. Há sempre uma onda de indisposição, que sois obrigado a combater; tendes de examinar-vos de novo, a fim de vencer aquela indisposição, etc. A introspecção é um processo em que não há libertação, porque é um processo de transformar o que é em algo que não é. É óbvio que acontece exatamente isto quando praticamos a introspecção, quando nos entregamos a essa peculiar atividade. Nessa atividade, há sempre um processo acumulativo; o 'eu' está examinando uma coisa com o fim de modificá-la, e por isso há sempre um conflito dualista e, por conseguinte, um processo de frustração. Nunca há libertação e, manifestando-se a frustração, sobrevêm a depressão."

(Krishnamurti, A Primeira e a Última Liberdade, Ed. Cultrix, p.146)
www.cultrix.com.br


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